A esperança de Enzo, Eloá, Gabriel, Joana, Vítor, Raquel e outras dezenas de crianças e adolescentes que moram em Luziânia está no futuro. Todos carregam sonhos em comum: além de conseguir ter uma profissão que admiram desde cedo, como ser engenheiro, bombeiro, modelo, professora, policial e juíza, eles sonham com uma realidade diferente da que vivem atualmente.
Suas histórias são marcadas por abandono, violências, falta de amor e cuidado de quem teria a responsabilidade de protegê-los. Nessa ausência, as instituições de acolhimento assumem esse papel. Os seis integram o grupo de cerca de 70 crianças e adolescentes que estão em uma das quatro instituições de acolhimento de Luziânia – Associação das Filhas do Puríssimo Coração de Maria, Comunidade Sagrada Face, Serviço de Acolhimento e Casa de Passagem Proteger é Possível e Instituição André Luiz.
Na última semana, os moradores dessas instituições receberam a visita do projeto do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) Liga Infantil dos Heróis Comuns (mas especiais), finalista do Prêmio Nacional de Comunicação e Justiça 2022. Juntos com alguns dos personagens da Liga – servidoras e servidores do TJGO que se fantasiaram dos personagens – eles dançaram, cantaram suas músicas preferidas, falaram sobre seus sonhos e assistiram a um vídeo com a mensagem principal da Liga: o Estatuto que garante os direitos da criança e do adolescente.
Para a juíza da Infância e Juventude da comarca de Luziânia, Célia Lara, “esses heróis carimbam valores muito importantes que servirão, certamente, para o futuro dessas crianças e adolescentes. Com certeza, elas farão desse contato com o projeto, com a cartilha e com os heróis um momento muito especial e de experiência para toda a vida.”
A visita do projeto
E.A.L.M, de 11 anos, está acolhida na Comunidade Sagrada Face. A música é o refúgio da menina sempre que ela está com raiva. “O dia de hoje foi muito legal, porque eu cantei. Eu amo cantar e dançar também. Sempre que estou com raiva, eu escuto música. Quero ser dançarina, talvez cantora, mas eu sempre troco, antes eu queria ser policial”.
A personagem da Liga dos Heróis Ruth Ahá encantou V.S.V, de sete anos. Assim como Ruth Ahá, o sonho dela é ser médica para “cuidar das pessoas”. Para isso, a menina sabe que “precisa comer e estudar muito”.
“Projetos como esse nutrem as crianças de afeto, porque, por mais que a gente esteja aqui ofertando o máximo disso pra eles, eles sentem falta de outras pessoas vindo visitar, desse momento dedicado a eles. É muito eficiente e saudável para a saúde mental. Todos os dias eles pedem pra fazer algo diferente”, avalia a psicóloga Bruna da Silva Melo Coutinho, comentando que as crianças, a partir de dois anos, já sentem o impacto de visitas como a do projeto da Liga dos Heróis. “Eles ficam mais tranquilos, bem mais relaxados”.
Heróis das crianças e adolescentes
Irmã Faustina, tias Lu, Isadora, Gabriele e Conceição e tio José Carlos são alguns dos heróis da vida dessas crianças e adolescentes acolhidos. Coordenadora da Comunidade Sagrada Face, Lucelita Oliveira Matos é chamada de mãe pela maioria das meninas e dos meninos. “A instituição funciona no escritório, aqui é a casa deles, é a família. A maioria me chama de mãe e o presidente da instituição de pai. E aqui a gente aprende mais com eles do que ensina, são muitas histórias”, ressalta a coordenadora.
Francisca das Chagas Cunha Pereira é coordenadora da instituição André Luiz e há 20 anos atua na área. “Eu só tenho que agradecer a todos eles por existirem na minha vida. Às vezes, a gente acha que está ajudando, mas nós que estamos sendo ajudados. Eu faço de tudo como se eu fosse a mãe deles e eles sabem o amor que eu tenho por cada um”, declara Francisca.
Na avaliação do presidente do Conselho Tutelar de Luziânia, Joel da Silva Roberto, que acompanhou uma das apresentações, “o projeto da Liga dos Heróis é surpreendente e fantástico, pois consegue mobilizar e interagir com todas as crianças. Ele traz um momento lúdico, de muita alegria. Só desejo que o projeto continue trazendo alegria e felicidade para nossas crianças, que não têm o seu núcleo familiar como base para o seu crescimento de imediato”.
Texto: Daniela Becker
Fotos: Luciano Augusto e Girlady Costa – Centro de Comunicação Social do TJGO.