O Carnaval está chegando e, nesta época, muitos foliões acabam cometendo excessos, principalmente no que diz respeito ao consumo de álcool. Talvez não por acaso que, no sábado (18/02), comemora-se o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, uma coincidência que, para a gastroenterologista e hepatologista Patrícia Borges (CRM GO 17446), que atende no Órion Complex, serve de alerta sobre a necessidade do consumo consciente de bebida alcoólica, mesmo diante de datas comemorativas tão importante para a população brasileira.
A médica adverte que o consumo exagerado de bebidas alcoólicas pode resultar em inúmeras consequências para o próprio organismo, que vão além da conhecida ressaca. Entre as principais estão alterações do trato gastrointestinal, como as gastrites, as úlceras pépticas e a diarreia; alterações psíquicas e neurológicas, como as síndromes demenciais; e, a longo prazo, sérios danos no fígado e no pâncreas, como a cirrose, o tumor maligno de fígado, como o hepatocarcinoma, e a pancreatite crônica.
Já a curto prazo, o consumo exacerbado de álcool também pode acarretar em uma hepatite aguda causada pelo álcool, muitas vezes com necessidade de uso de medicações e até internação hospitalar. “Nesses casos, muitos se recuperam com a retirada completa do álcool e os cuidados especializados. Entretanto, em casos mais graves, se o paciente já tiver uma doença crônica do fígado, esta exacerbação poderia levar até a uma insuficiência hepática com necessidade de transplante hepático. E, infelizmente, a doença hepática alcoólica, sem o cumprimento de um tempo mínimo de abstinência, não permitiria a inclusão em lista de transplante de fígado”, alerta doutora Patrícia.
A especialista também observa que o momento festivo pode servir de gatilho para o aumento do consumo de álcool para quem já tem histórico familiar de alcoolismo. “A predisposição genética é uma questão que tem sido estudada há muitos anos e sabe-se que pode interferir e até ser um fator desencadeante do alcoolismo. Entretanto, além dos fatores genéticos, as questões sociais, relacionadas ao meio externo, também exercem forte associação, como problemas financeiros, de relacionamentos, doenças psíquicas como a depressão e ansiedade, assim como a insegurança e o próprio medo de situações que fogem ao equilíbrio emocional de cada paciente”, explica.
Folia sem exageros e com saúde
Para quem deseja aproveitar o Carnaval com equilíbrio e sem deixar a saúde de lado, doutora Patrícia recomenda, em primeiro lugar, evitar o consumo exagerado de álcool e, se for beber, aumentar a ingestão de líquidos naturais, especialmente a água, para ajudar no metabolismo do álcool, assim como na melhoria da circulação dos diversos órgãos evitando, assim, a temida ressaca. Segundo a gastroenterologista e hepatologista, investir em uma alimentação saudável, rica em frutas e vegetais, e evitar alimentos gordurosos e excesso de doces, também é importante.
A especialista ainda faz um alerta para os pacientes alcoolistas. “A principal recomendação é a busca pela realização de atividades que possam trazer de volta o equilíbrio mental e físico, como a realização de atividade física, uma alimentação saudável, buscar estar cercado de pessoas que lhe desejam bem e realizar atividades que geram esse bem-estar, fazendo com que a bebida alcoólica não seja mais um ‘refúgio’ ou uma ‘fuga’ para os problemas que sempre existirão”, pontua.
Já para os que não conseguirem fugir dos excessos, o conselho é dormir bem, no mínimo oito horas por noite, para que o organismo possa descansar após os momentos festivos. E, ainda, praticar atividade física, pelo menos três horas por semana, intercaladas a cada dois dias e contemplando exercícios aeróbicos e anaeróbicos, para que o organismo se previna de complicações relacionadas ao álcool. “E sempre realizar exames preventivos, de check-up anual, para que as alterações sejam encontradas precocemente e tratadas antes que evoluam para alterações crônicas e com tratamentos restritos”, complementa a médica.
“Que não deixemos de aproveitar as datas comemorativas, entre elas o Carnaval, mas sempre com moderação e cuidando da saúde”, arremata a gastroenterologista e hepatologista.
Existe quantidade segura de álcool?
Apesar de diversos estudos indicarem uma quantidade aceitável de álcool a ser consumida, conforme o tipo de bebida alcoólica e o sexo, doutora Patrícia reitera que esta quantificação se torna difícil de ser aplicada, especialmente em pacientes já alcoolistas, para os quais esta quantidade limite já seria considerada um excesso.
“Uma atenção especial deve ser dada também aos pacientes que já possuem alguma doença hepática crônica, como a esteatose hepática ou a ‘gordura no fígado’ e as hepatites virais, que podem causar uma inflamação crônica do fígado. O ideal, nestes casos, seria evitar de qualquer forma o consumo de bebida alcoólica para que não haja piora da doença, levando ao desenvolvimento de cirrose e até mesmo o tumor de fígado,” destaca.
Já para os pacientes que possuem alguma doença crônica, como diabetes, hipertensão arterial, esteatose hepática, doenças neurológicas, alterações do colesterol ou doenças do trato gastrointestinal, a especialista aconselha a sempre buscarem um acompanhamento especializado em suas comorbidades e, inclusive, lembrarem de contar ao seu médico sobre o consumo de bebida alcoólica, pois isso pode interferir no tratamento e até na absorção dos medicamentos de uso contínuo.