Ignorar os sinais de alerta sobre a saúde mental das mulheres durante a gravidez ou após o parto afeta o bem-estar e a saúde delas, como também pode comprometer o desenvolvimento físico e emocional dos bebês, segundo a Organização Mundial de Saúde. A médica pediatra do Espaço Zune, em Goiânia, Giselle Pulice de Barros Lôbo, alerta para uma das grandes dificuldades das mulheres no puerpério: após terem filhos, se tornam desapercebidas pelos familiares e amigos.
“O que percebo é que o foco se torna 100% destinado ao bebê enquanto a mãe está vivendo o puerpério, que é o período pós-parto e dura em média 45 dias. Da mesma forma que a mulher sente incômodo com as mudanças da gestação, sente no puerpério também, já que seu organismo começa a voltar a ser o que era antes da gravidez, com mudanças hormonais e anatômicas, que influenciam muito no psicológico. É um momento delicado em que olhar com carinho para ela, e não só para o bebê, ajudaria a diminuir a tribulação dessa fase”, explica Giselle.
Outra causa da vulnerabilidade emocional das mães é que o vínculo com o recém-nascido pode não ser imediato, o que gera ainda mais angústia materna. Apesar de estudos mostrarem que essa dificuldade é normal, a maioria das pessoas tem vergonha desse sentimento e conversar com outros pais que estão passando ou passaram por situações semelhantes pode ajudar. Ações físicas de afeto, como cantar e conversar com o bebê e fazer contato pele a pele (inclusive com o pai), também ajudam. Para alguns casos, a pediatra indica até diminuir a frequência de visitas, para que os pais fiquem mais à vontade para criar vínculos com esse novo integrante da casa.
Mudanças físicas e emocionais
· Útero cicatrizando e voltando ao tamanho normal, gerando cólicas e sangramentos;
· Seios sensíveis, dolorosos e mamilos com fissuras e bastante ardência;
· Alças abdominais sofrem distensão, causada por gases;
· Cicatrização da vagina e retorno das dimensões e força original da musculatura pélvica, o que pode gerar dor na região íntima;
· Hormônios com alteração, com diminuição brusca do estrogênio e da progesterona, causando alteração no sono, falta de libido, cansaço e alterações de humor.
Nesse cenário, somado à mudança de rotina e adaptações que o bebê traz com sua chegada, é preciso que o companheiro dedique um olhar cuidadoso e paciente, porque isso ajuda muito a diminuir as chances de adoecimento mental da mulher. Além do acolhimento, é preciso que o pai ajude nos cuidados com o bebê, vá nas consultas pediátricas para criar vínculos, responsabilidade e para tirar dúvidas que causem insegurança nos cuidados com o bebê.
“Como médica, procuro normalizar dúvidas, medos e inseguranças dos pais de primeira viagem, que são normais, pois é no dia a dia e nas tentativas que se ganha experiência de maternidade e paternidade. O puerpério é um momento frágil e é comum sentir as emoções à flor da pele, esgotamento e vontade de chorar. Esse período de humor instável recebeu o nome de baby blues e, segundo a American Pregnancy Association, ele acomete em cerca de 70 a 80% das mães.
Os sentimentos negativos ou mudanças de humor podem ser: irritabilidade, insônia, ansiedade, tristeza excessiva, vontade de chorar com frequência, falta de libido, falta ou excesso de fome, insegurança (de que não conseguirá dar conta da criança em alguns momentos) e auto depreciação”, pontua a pediatra.
Baby blues ou depressão pós-parto?
A diferença entre o baby blues e a depressão pós-parto é uma linha tênue na intensidade dos sintomas. Por exemplo, o baby blues pode causar sentimento de desesperança enquanto a depressão causa a falta da vontade de viver. A mãe com baby blues normalmente consegue manter sua rotina diária e de cuidados com o bebê, enquanto a mãe em processo de depressão pós-parto dificilmente conseguirá seguir a rotina. Outro fator é o tempo, já que mulheres com baby blues tendem a melhorar após três semanas, enquanto na depressão pós-parto os sintomas podem prolongar por meses, podendo ser necessário ajuda médica.