Existe uma tendência das pessoas em romantizar a maternidade e criar uma concepção sempre positiva da mãe para construir a famosa “mãe ideal”, mas quando começam os obstáculos, as dificuldades e os problemas e a mãe sai dessa expectativa construída, ela é julgada e culpada por não conseguir ser o que “deveria”.
“Nós temos o mito da mãe perfeita que tem obrigação de educar os filhos, cuidar e fazer tudo. E nesse checklist de boa mãe, conta algumas coisas que são muito culturais que é: ter um parto normal, amamentação no peito, não deixar o bebê chorar ou gritar, fazer disciplina positiva e assim vai. E se ela falha nesses conceitos extremamente culturais, ela vai ser julgada e culpada”, afirma a psicóloga Michelle Branquinho.
De acordo com a profissional, sempre há um dedo apontando para a mãe e ela acaba sendo alvo de especulação das pessoas pelo fato de existir o mito da mãe perfeita. “Então se o filho dá uma birra no meio do shopping, ninguém para e se pergunta se ele tá doente, se ele teve uma gripe, se ele não dormiu bem ou se tá acontecendo alguma coisa, todo mundo olha e diz nossa, olha aquela mãe ali, não consegue nem controlar o filho”, explica a psicóloga.
Lorrane Gabriele da Silva Camargo é mãe de uma menina de um ano. Ela conta que se sente muito julgada pela sociedade e principalmente por pessoas próximas, como e familiares.
“Quando eu falei em parar de amamentar, falaram que não tinha a necessidade e que minha filha era muito pequena, mas eu queria parar porquê amamentar estava me fazendo mal e eu estava perdendo peso. Depois, quando voltei a trabalhar, disseram que não deveria trabalhar porque minha filha é muito nova e assim não vou aproveitar as fases dela. E aí quando comentei que ia passar a guarda dela para o pai, porquê não estou conseguindo trabalhar e cuidar dela, uma pessoa próxima disse que eu sou louca e não existe isso de dar a guarda de filho para o pai. De qualquer forma dizem que não sou uma boa mãe, se trabalho, se não trabalho, se cuido ou se não cuido, estou sendo julgado a todo momento”, relata.
Sara Lorena da Silva tem uma menina de 3 anos e compartilha do mesmo problema. “As pessoas acham um absurdo eu ficar só a semana com ela e deixar com o pai no final de semana. Ele está de férias por isso vai ficar 15 dias com ela. As pessoas falam que eu sou irresponsável e a pior mãe do mundo. Dizem que não sou uma boa mãe, porquê eu deixo minha filha com o pai dela”, conta.
Camila Oliveira Máximo não fica de fora, ela tem um filho de 8 anos e se sente cobrada pela sociedade, “muitas vezes o sentimento é de frustração”
“As pessoas precisam ter mais empatia ao próximo. Olhares argumentos e opinião, não devem ser feitos sem que a própria mãe peça, então, não dê, só guarde para si, para não ser inconveniente e magoar o próximo”, diz.
Para Michelle, as pessoas julgam muito por uma questão cultural, por achar que mãe é perfeita, mas o problema é ninguém é perfeito. “É como se ela fosse a pessoa que tem total responsabilidade por assumir a educação de uma criança, por assumir aquela pessoa e isso vai trazendo cada vez mais sofrimento e mais dificuldade, vai somando uma intolerância à maternidade, porque essa pessoa já carrega ali uma obrigação”, diz Michelle.
A psicóloga pontua que todos nós temos dificuldade em alguma coisa e que isso não impede uma mulher de ser uma boa mãe. “ A mãe suficientemente boa é aquela que consegue suprir os cuidados básicos do seu filho e é isso que importa”, afirma.
Segundo Michelle, a maternidade deveria estimular uma cumplicidade, uma rede de empatia, já que nada melhor do que uma mãe para entender as angústias e aflições das outras. Mas o que vemos e sentimos são olhares duros de reprovação. “Essa crítica, esse julgamento, ele torna a mulher mais sensível, mais frágil e muitas vezes nós vemos essas mulheres no estado depreciativo tão grande que elas se perdem no meio dos relacionamentos , no meio das pessoas e se perdem como pessoa”, afirma.
Por isso, Michelle explica que temos que viver longe dessa perfeição e começar a trabalhar essas cobranças internas que nos fazemos e nos blindar disso para que os outros possam olhar para essa mãe e valorizá-la também.
“Nenhuma mãe é perfeita e ainda bem que nenhuma mãe é perfeita, não é? Pois nós somos seres humanos e seres humanos são passíveis de erro, então é importante que cada um cuide da sua própria vida, que faça o melhor que puder e que valorize cada minuto da sua maternidade, da sua vida, de cada espaço. Que também possa respeitar suas ideais e valorizar você como ser humano, porque antes de ser mãe, você é um ser humano. Então, para que você não seja afetada, nunca perca a sua identidade. Nunca perca quem você é”, ressalta a psicóloga.