Com a celebração do Dia Mundial do Rim a atenção volta-se para a crescente preocupação com as doenças renais em todo o mundo. Segundo estimativas da Organização Internacional World Kidney Day, cerca de 10% da população global, o equivalente a 850 milhões de pessoas, enfrenta algum tipo de doença renal crônica, uma condição que pode ser fatal, se não for tratada adequadamente.
No Brasil, os números não são menos preocupantes. De acordo com dados recentes da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), mais de 140 mil pacientes estão em estágio avançado de doença renal crônica, submetendo-se a tratamentos, como a diálise, para sobreviver. O transplante de rim, que representa cerca de 70% do total de transplantes de órgãos realizados no país, é uma esperança para muitos desses pacientes. O Brasil ocupa uma posição de destaque global nesse aspecto, sendo o terceiro maior transplantador de rim do mundo, com 4.828 procedimentos registrados apenas em 2021.
No entanto, apesar dos avanços na área, ainda há desafios significativos a serem enfrentados. Estima-se que cerca de 50 mil pessoas no Brasil morrem prematuramente, a cada ano, devido à falta de acesso à diálise ou ao transplante de rim.
Frente a esse contexto, a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) coordena anualmente, no país, a Campanha do Dia Mundial do Rim, que tem como objetivo disseminar informações vitais sobre as doenças renais, destacando a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e do tratamento adequado.
De acordo com a nefrologista Marcela Borges, do Hospital Mater Dei Premium Goiânia, alguns dos fatores que podem comprometer a saúde renal são o abuso de substâncias como fitoterápicos, suplementos e anabolizantes, e a automedicação.
“Várias classes de medicações podem ter nefrotoxicidade, como os anti-inflamatórios. Por exemplo, o diclofenaco, a nimesulida e o ibuprofeno, que são muito difundidos na população em geral, podem ser comprados sem receita médica e têm um grande potencial de serem tóxicos aos rins”, alerta a médica. “Sabemos que 1 a 5% dos pacientes que usam anti-inflamatórios podem evoluir para algum tipo de nefrotoxicidade, que pode envolver lesão renal aguda, nefrite intersticial aguda e alguns outros tipos de lesão renal. É um número muito importante, se considerarmos que são remédios muito usados sem receita médica”, complementa.
Por outro lado, uma análise sobre os padrões de consumo, conduzida pelo Ministério da Saúde, revelou que em 59% dos domicílios brasileiros, pelo menos uma pessoa faz uso de algum tipo de suplemento alimentar. Destes, 60% são homens e 40% são mulheres. “Suplementar significa suprir o que está em falta. Nós vemos o uso indiscriminado de vitaminas, de fitoterápicos, de suplementos para ganho de massa muscular. E, na verdade, isso só vai fazer bem, só vai ter efeito, se for para complementar algo que está em falta. Então, o que serve para um indivíduo não necessariamente serve para mim. Talvez o que ele tenha em falta eu não tenha. O que o vizinho utiliza não é o mais adequado para mim”, explica a médica.
Sinais do uso excessivo – Os sintomas dependem muito do que foi usado e das doses. Pode ocorrer desde o aumento da pressão arterial, pelo aumento da viscosidade do sangue, até lesões diretas e tóxicas ao funcionamento dos rins, fígado e estrutura do coração – sem contar o risco aumentado de infarto, AVC e câncer. Mais relacionados aos rins, podemos citar desde o aumento da incidência de cálculos renais – principalmente relacionados ao abuso da vitamina D – até o inchaço das pernas e restante do corpo, falta de ar, falta de apetite e perda do funcionamento dos rins.
Exame para todos – O Dia Mundial do Rim tem como foco a saúde desse órgão tão importante para o funcionamento do corpo. A campanha, que busca disseminar informações para toda a sociedade, chama a atenção também para a importância de todos os brasileiros poderem acessar o exame de creatinina. O ideal, segundo a SBN, é que toda pessoa, principalmente acima de 30 anos, possa fazer um exame anual de dosagem desse marcador da função do rim.