O seguro rural existe para garantir uma maior viabilidade econômica para os empreendedores do agronegócio, mas mesmo assim apenas cerca de 20% das áreas agrícolas do Brasil são seguradas. Muitas vezes o produtor rural pensa que o seguro rural é direcionado para aqueles que detém crédito, mas na verdade, ele é indicado para qualquer produtor que faça investimentos em produção.
O engenheiro agrônomo e diretor comercial da Compensa Seguros, Vinícius Silva Pimenta, defende que o preserva o produtor rural, o agronegócio como um todo por conta do crédito em cima da operação. “Goiás, por exemplo, já está no terceiro plantio da Safrinha em que se exigiu muitos investimentos por parte dos produtores com fatores climáticos e outras situações que interferiram na produtividade dos plantios”, pontua.
Ele informa que é necessário, em um primeiro momento, entender a diferença entre o prêmio e o sinistro. “A sinistralidade é um termo formado pela divisão entre o valor que foi indenizado ao contratante pelo prêmio retido, ou seja, o valor que a seguradora arrecadou de prêmio. Já o prêmio é o percentual em cima do valor garantido, ou seja, aquilo que a seguradora coloca em risco em cada operação”, esclarece.
Vinícius Pimenta afirma que o seguro deve ser pensado a partir da realidade do produtor, ou seja, existem produtos direcionados para atender o pequeno produtor e também aqueles que produzem em larga escala. “Independente do tamanho da produção, é uma garantia que evita abalar a estrutura financeira do produtor rural para que ele se mantenha ativo no agronegócio”, pontua.
Ele cita que para a agricultura de grãos em larga escala o prêmio representa o valor que será a quantidade de sacas que o seguro irá garantir multiplicado pelo valor da saca do grão. “A seguradora, para calcular o seguro de cada produtor, avalia detalhes de sua realidade específica para conseguir mensurar o que é possível garantir e também atribuir preços atrativos aos seus produtos”, destaca.
Como qualquer outra atividade, as seguradoras também visam o lucro e por isso é necessário entender bem como funciona as realidades das safras de cada região, cada propriedade, para que vender seguros rurais não se torne uma atividade inviável economicamente falando. Segundo o diretor comercial, embora o seguro seja um aliado do produtor rural, ainda não é um produto amplamente consumido no Brasil onde cerca de 20% das áreas agrícolas são seguradas.
O profissional ressalta que em países como os Estados Unidos esse percentual representa 98% do total das áreas agrícolas. O diretor comercial lembra que as seguradoras poderão no futuro diversificar os produtos e ampliar a gama de produtos que poderão ser usados como pagamento pelo seguro.
“Nós pensamos estrategicamente, então o crescimento do mercado de seguro com mais contratações por parte dos produtores rurais resultará em novas opções mais viáveis e atrativas para o mercado como um todo”, diz. Além disso, em muitos casos o produtor entende que o seguro poderá ser inviável e, mesmo se já está contratado, as seguradoras estão flexibilizando formas de romper os contratos para diminuir os prejuízos para os contratantes.
Vinícius Pimenta salienta que essa prática é relativamente comum no no mercado de seguros. “Presenciamos vários casos de cancelamento todos os anos em algumas situações é o melhor a se fazer para as partes envolvidas”, observa.
Exigências
Para que o produtor tenha acesso à indenização do seguro, vários documentos são exigidos, entre eles a nota fiscal de compra das sementes. “As seguradoras exigem que as sementes sejam certificadas, então o produtor não pode usar sementes guardadas da safra anterior. E assim seguem várias outras regras importantes”, comenta.
Eduardo Assis, advogado especialista em Direito do Agronegócio, acredita que existe ainda uma dificuldade em convencer o produtor rural que o seguro é um produto atrativo. “Esse baixo percentual de áreas agrícolas seguradas no Brasil demonstra que contratar o seguro ainda é uma questão cultural e em muitos casos em função da dificuldade de se receber esse seguro quando ele precisa”, pondera.
O especialista aponta outro problema comum no processo de contratação do seguro rural, que é o ruído na comunicação entre o corretor e o produtor rural. “Esse ruído infelizmente acaba prejudicando em caso de sinistro. Então, muitas vezes de fato o contratante não tem o real conhecimento do que rege o contrato do seguro rural, o que vejo como um grande empecilho para o mercado”, diz.
Vinícius Pimenta destaca que todo seguro traz para o contratante quais são as garantias e todas as exigências necessárias para a comprovação na hora de recorrer ao prêmio. “Algumas falhas graves prejudicam o produtor na hora de ter acesso ao seguro, como plantio fora do zoneamento entre outros”, diz.
De acordo com a advogada Roberta Freire, especialista em direito do agronegócio e sócia da VFA Direito do Agronegócio, os contratos de seguro rural quase sempre são muito taxativos por envolver muitos riscos para as seguradoras e estas são obrigadas a lidar com circunstâncias muitas vezes incertas e que não podem ser colocadas no papel, no contrato.
“É muito importante que o corretor traduza para o contratante todos os termos do contrato, para não restar dúvidas quanto ao conteúdo, pois o contrato precisa ser entendido pelo produtor rural”, defende Roberta, ao comentar que um dos objetivos do seguro é minimizar os riscos para se manter na atividade, principalmente em anos de safras com baixa produtividade.