Uma carreira para quem quer muitas possibilidades

Engana-se redondamente quem imagina que a atuação dos arquitetos e urbanistas se restringe à projeção de prédios, casas e espaços urbanos. O trabalho desse profissional, cujo dia é celebrado neste 15 de dezembro, alcança muito mais áreas e nichos de mercado do que se possa pensar: administração da obras, comunicação visual, design de animações, projetos de iluminação, modelação em 3D, paisagismo, design de interiores, pesquisa científica na área de arquitetura, tecnologia da construção e restauração de edifícios e muitas outras áreas. Dados do mais recente censo profissional feito em 2020 pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo apontam que a ocupação, declarada por mais de 212 mil brasileiros, vive um bom momento com 87% dos arquitetos urbanistas recém-formados atuando na área. Em dez anos, o número de profissionais no país registrou um aumento de 17%.

Criatividade, sensibilidade e interesse pelas artes são algumas características tradicionalmente atribuídas aos arquitetos e urbanistas, mas para quem vive a prática deste vasto mercado profissional as habilidades para quem quer atuar nesta carreira vão muito além. Podemos incluir entres os atributos desejáveis para este profissional a aptidão para trabalhar com números, capacidade de gerenciamento, meticulosidade, grande capacidade de observação e análise, e ainda espírito empreendedor, já que a grande maioria dos arquitetos atua de forma autônoma ou como sócios de grandes escritórios de arquitetura. Para saber um pouco mais sobre os desafios e as perspectivas dessa profissão ouvimos os sócios da Norden Arquitetura, um dos maiores escritórios de arquitetura do Centro-Oeste brasileiro e com atuação em vários estados.

Buscar soluções
Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Paulo Renato Alves é o fundador do escritório e um dos arquitetos com mais tempo de mercado na Norden. Ele admite que a arquitetura não foi a sua primeira opção, por sempre gostar de matemática e por sugestão de um professor de cursinho fez um ano de Engenharia Civil, mas logo percebeu que não era o que esperava.

“Percebi que a engenharia vinha para concretizar as soluções apresentadas pela arquitetura e eu queria justamente isso, criar soluções. Na Arquitetura me encontrei e descobri que arquiteto não é um artista, não é alguém que só faz desenhos ou que desenha bem, essa inclusive é uma ideia equivocada que as pessoas têm sobre o arquiteto, que na verdade é um profissional que tem como principal objetivo resolver problemas espaciais, por isso um arquiteto precisa ter esse olhar espacial sobre o mundo a sua volta”, afirma.

Para ele, um grande desafio para os futuros arquitetos será estar atento às várias e rápidas mudanças da sociedade que impactam fortemente na forma como as pessoas usam os espaços públicos e privados. “Antigamente um arquiteto estudava na faculdade um determinado nicho e ele atuava nesse segmento por anos e anos. Hoje em dia é diferente, a sociedade muda muito rápido, os hábitos mudam rapidamente. Você tem, por exemplo, os aplicativos de transporte que em cinco anos impactaram a rotina das pessoas em relação à locomoção e hoje você tem o surgimento de vários projetos de prédios sem vagas de garagem. Então esse é um grande desafio dos arquitetos, que é quase que prever o futuro”, afirma.

Sustentabilidade
Responsável pela diretoria de criação do escritório Norden e por inspirar o irmão e sócio, Paulo Renato Alves, a seguir a mesma carreira, a arquiteta e urbanista Suzy Alves também é formada pela PUC Goiás e acumula mais de 30 anos de mercado. Ela conta que o dom de trabalhar com traços e formas surgiu bem cedo. “Sempre tive muitas habilidades manuais e, mesmo quando era criança, desenhava casas com áreas de lazer em perspectiva com muito senso de proporção, altura e profundidade. Aos 12 anos, meu pai comprou um apartamento na planta e, quando eu vi o folder, já fiz uma maquete física — levantando paredes com cartolina, criando os mobiliários de todos os ambientes, e revestindo os pisos com materiais que tinha em casa”, conta.

Para Suzy, aliar conforto, segurança e sustentabilidade nos projetos são o grande desafio para os futuros arquitetos. “Olhando pelo aspecto do mercado imobiliário, que é uma área que conheço bem, conciliar a moradia com a qualidade de vida desses moradores, que ao mesmo tempo valorizam cada vez mais hábitos de consumo responsáveis que impactem o mínimo possível ao meio ambiente”, defende a arquiteta.

Legislação urbana
Sócia e diretora de Projeto Executivo da Norden Arquitetura, Nicole Garrido Saddi também é oriunda do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC Goiás. Ela diz que optou pela profissão porque achava que era uma carreira que envolvia muita arte e muito desenho livre, mas não foi bem o que ela descobriu, mas ainda sim diz que se encontrou em outros nichos da arquitetura.

“Quando comecei o curso percebi que é uma área que requer muita técnica. Hoje atuo com a executiva dos projetos, que envolve justamente o conhecimento de muitas normas técnicas, legislação específica e o uso de alguns software voltados para a arquitetura. Confesso que não era realmente o que eu esperava inicialmente, mas com o tempo eu me encontrei na gestão executiva, que é uma etapa fundamental como todas as outras”, afirma.

Nicole lembra que o trabalho do arquiteto convive com constantes alterações de normas técnicas, legislações e  agrega cada vez mais, e forma bem mais rápida, o uso de novas tecnologias.”Um grande desafio para os arquitetos no futuro, que já vem sendo um desafio hoje, é se manter atualizado de forma ainda mais rápida sobre as novas tecnologias e leis mudam sempre. Essa atualização de conhecimento precisa ser constante”, frisa.

Relevância
Formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e com 15 anos de mercado, Karla Patrícia Fernandes também integra o quadro societário da Norden e dentro do escritório responde pela coordenação e gestão de projetos de interiores e arquitetura paisagística. Ela conta que desde criança sempre teve aptidão para a criação e trabalhos manuais e com o passar do tempo foi percebendo que a arquitetura poderia ser o seu caminho. “Gostava muito de desenho e sempre tive um senso de observação muito forte, por isso desenhava plantas e casas desde pequena por diversão. Minha brincadeira favorita era montar as casinhas das bonecas e decorá-las”, relata Karla.

Para a arquiteta, um grande desafio para seus futuros colegas de carreira, será o de manter a relevância da profissão, demonstrando sempre o quanto a arquitetura e urbanismo podem contribuir para o bem-estar das pessoas de forma individual ou coletiva. “Mesmo com tanta tecnologia aplicada no mercado, e que aparentemente pode facilitar o nosso trabalho, o conhecimento e a criatividade de um bom profissional será sempre o ponto chave para evitar desperdício de tempo, de dinheiro e para mostrar que a arquitetura pode e deve ser inclusiva e acessível a todos as pessoas como uma forma de melhorar sua qualidade vida e bem-estar.’, pontua.

Revolução tecnológica
Fã das artes visuais, desenhos e tecnologia, para Jean Marcel, sócio-diretor da Norden e Bim manager do escritório, a escolha da arquitetura foi um caminho natural. Formado pela Universidade Estadual de Goiás (UEG), ele também responde pelo desenho de gestão do escritório, que interliga todas as áreas da empresa, que é especializada em projetos full design.

Sobre a perspectiva de desafios da arquitetura para o futuro, Jean prevê uma revolução causada pela presença cada vez maior, no dia a dia das pessoas e empresas, de conceitos tecnológicos que há alguns anos pareciam coisas de ficção científica. “Acredito que o papel do arquiteto será muito mais voltado para neuroarquitetura, que é um tipo de ciência que aplica conhecimentos da neurociência aos espaços arquitetônicos, que por meio da combinação de materiais, texturas, cores, iluminação, sons, plantas, dentre outros itens, torna possível criar espaços e ambientes que têm capacidade de influenciar positivamente no comportamento das pessoas”, explica.

Visão de futuro
Mais uma sócia formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC Goiás, Sarah Jorge possui dez anos de mercado e na Norden é responsável pelo setor de Aprovação de Projetos, onde coordena a formatação do projeto para que o mesmo seja aprovado junto aos órgãos responsáveis. Ela também quem, junto com Paulo Renato, faz os estudos de viabilidade.

Ela lembra que, como todo jovem que está a procura de uma carreira, tinha muitas dúvidas, mas mesmo antes de pensar em fazer alguma faculdade, conta que sempre teve interesse em analisar aquelas plantas  impressas em folders e anúncios de jornais de lançamentos imobiliários. Aliado a isso, o interesse pela arquitetura cresceu quando o irmão iniciou o curso de Engenharia Civil. “Na época ele sempre dizia que a área da Construção estava crescendo muito, e eu sempre tive um interesse voltado para a área das artes, para os trabalhos manuais, para criação de espaços. Então eu estudei e busquei a respeito dessa área de arquitetura e graças a influência familiar e esse interesse pelas artes escolhi o meu curso”, revela Sarah.

A arquiteta e urbanista, os principais desafios da profissão são dois: o rápido e forte impacto das novas tecnologias na vida das pessoas, e a necessidade de fazer projetos cada vez mais sustentáveis. Sarah chama atenção para que os futuros colegas de profissão fiquem cada vez mais atentos à evolução humana, à evolução das cidades e à evolução do padrão de vida. “As novas tecnologias que surgem nos dias de hoje estão impactando cada vez mais na concepção dos projetos de arquitetura. “Para mim, o desafio que os futuros arquitetos terão é o mesmo desafio que temos hoje, que é ter uma visão de futuro que traga ideias que não caiam em desuso, só que sabe que hoje essas revoluções tecnológicas e consequente as mudanças de hábito ocorrem de forma muito mais rápido do que era há 20 ou 30 anos”, argumenta.

Ela fala também sobre outro grande desafio para arquitetura do futuro, a sustentabilidade. “Hoje temos uma real noção do quão os recursos naturais estão se esvaindo e o quão precisamos preservar esses recursos, então os projetos de hoje, mais do que nunca, precisam colocar isso em prática, aproveitar ao máximo esses bens naturais com tecnologias de reuso de água, aproveitamento da luz natural. Essas práticas já estão sendo cobradas e serão ainda mais cobradas pelos clientes num futuro próximo”, alerta.