A geração sem dentadura

A dentadura foi durante muito tempo o símbolo da finitude dos dentes. Descansada dentro de um copo na mesa de cabeceira da vovó, era a imagem tradicional do sorriso na terceira idade.

Assim como focam em exercícios e métodos mirando em preparar o corpo físico e mental para essa fase, a geração das pessoas com mais de 50 anos, conhecida como a geração prateada, já é maioria em consultórios dentários. O objetivo: combater o envelhecimento dos dentes e deixar “o copo e sua dentadura” no passado, como algo lúdico dos contos infantis.

De acordo com Marcelo kyrillos, cirurgião-dentista do Ateliê Oral, o aumento da expectativa de vida trouxe uma mudança de comportamento. Segundo ele, na Clínica, que existe há 33 anos em São Paulo, o percentual de clientes na faixa etária entre 45 e 65 anos aumentou significativamente, correspondendo a quase 80% dos atendimentos.

“Temos um volume de consultas requeridas para essa faixa de idade, jamais visto. Antigamente, esses pacientes vinham com queixas de dores. Hoje chegam para prevenir e combater o envelhecimento. Eles cuidam mais da cabeça, do corpo e passaram a incluir os dentes dentro dessa agenda de preparação para a terceira idade”, salienta.

Os dentes também envelhecem

Sim, os dentes também envelhecem e sofrem impactos que advém da idade, como qualquer outra parte do corpo. Retrações gengivais, diminuição no tamanho dos dentes, perda óssea, marcas de expressão no rosto causadas pela perda do suporte labial, além de mudanças na textura e na tonalidade do esmalte, são algumas das heranças da ação fisiológica do organismo.

Uma herança que chegou com essa nova geração prateada é a erosão dentária. Considerada o “mal do século”, é o desgaste e a corrosão do esmalte dentário, que afeta tamanho e forma. A causa está relacionada a doenças, distúrbios e até mudanças de comportamento das pessoas nas últimas décadas, tais como: ansiedade, estresse e depressão (pelo ranger dos dentes ou apertamento excessivo tensionado), consumo de dietas ácidas e produtos industrializados (pelo Ph abaixo do limite da integridade dental), além do uso excessivo de medicamentos.

Estética não pode ser uma maquiagem

É possível resgatar a jovialidade dos dentes? Kyrillos explica que sim, porém faz um alerta: os problemas estéticos, na maioria das vezes, são consequências de problemas funcionais.

“Muitos pacientes negligenciaram a saúde bucal no passado. Outros, apenas carregam os impactos do tempo. Então, não se pode usar a estética como uma maquiagem. Se um paciente quer colocar lentes de contato nos dentes, é preciso verificar se, ali, não tem um caso severo de bruxismo que nunca foi tratado. Senão, nada vai adiantar. Ele vai continuar rangendo os dentes, com problemas na oclusão, dores mandibulares ou nas costas, pescoço e lombar, que geralmente acometem as pessoas nesses casos. Sim, muitas dores têm nos dentes a sua origem”, frisa.

“Por isso, a visão de um especialista com experiência é um fator decisivo antes de ir diretamente para a estética, principalmente no caso do paciente com mais idade, que já tem danos dentais acumulados pelo tempo”, completa.

Segundo o especialista, após verificadas saúde e função, essa nova geração pode se servir do que nenhuma outra 50+ teve acesso. Novas alternativas de implantes para a substituição de dentes perdidos, que possibilitam que sejam recuperados e não extraídos, como antigamente, além de técnicas de restauração que conservam mais a estrutura original e materiais que chegam muito perto da sensação e da aparência dos dentes naturais, para citar algumas inovações. “Essa é a primeira geração de avós que não têm a dentadura como destino final de seus dentes”, destaca Kyrillos.