A obesidade é um dos problemas de saúde mais graves hoje em dia, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 2025, a estimativa é de que 2,3 bilhões de adultos ao redor do mundo estejam acima do peso e 700 milhões de pessoas com obesidade. No Brasil, essa doença crônica aumentou 72% nos últimos treze anos, saindo de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019.
Em 2022, até o início de outubro, o Sistema Único de Saúde (SUS) acompanhou mais de 4,4 milhões de adolescentes entre 10 e 19 anos de idade, segundo o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde. Desses, quase 1,4 milhão foram diagnosticados com sobrepeso, obesidade ou obesidade grave.
“A obesidade é um importante fator de risco modificável para o câncer, ficando atrás apenas do tabagismo. A associação de sobrepeso e obesidade com incidência de câncer é estimada em 7,8%”, afirma o médico oncologista clínico, Gabriel Felipe Santiago.
O excesso de gordura corporal inflama de forma crônica o organismo e aumenta os níveis de hormônios que provocam o crescimento desordenado de células cancerígenas. “Daí o alerta no controle de peso, uma vez que a obesidade aumenta as chances de a pessoa desenvolver algum tipo de câncer”, argumenta o oncologista.
No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima 704 mil novos casos da doença neste ano, com destaque para os tumores de mama, próstata, intestino e pulmão. No próximo sábado, 4 de fevereiro, é Dia Mundial do Câncer, uma iniciativa internacional que pretende aumentar a divulgação de informações e gerar um alerta geral para medidas contra a doença.
De acordo com Gabriel Santiago, os tipos de câncer ligados a obesidade são tumores de mama (mulheres na pós-menopausa), endométrio, próstata e intestino (cólon e reto).
“Procedimentos como cirurgia bariátrica e metabólica podem ser aliados na prevenção ao câncer”, afirma o médico cirurgião bariátrico e metabólico, Paulo Reis que explica que a realização da cirurgia é capaz de reduzir o risco de câncer de mama na menopausa, assim como os tumores de esôfago, pâncreas, fígado, vesícula, rim, ovário, colorretal e tireoide, de acordo com a meta análise “Association of Bariatric Surgery With Cancer Risk and Mortality in Adults With Obesity”.
“O grande benefício da cirurgia bariátrica em relação à prevenção ao câncer diz respeito ao fato de que quando um paciente que passa por esse procedimento, automaticamente tende a emagrecer, diminuindo consideravelmente o percentual de gordura”, esclarece Paulo Reis. O fato, de acordo com o médico, reduz o processo inflamatório do corpo. “Com o emagrecimento, há uma queda da replicação e morte celular em todo aquele processo genético que pode causar um câncer. Por essa razão que atualmente existe uma relação tão clara entre a obesidade e o câncer”, justifica Paulo Reis.
Outro fato importante citado por Paulo Reis é que por muito tempo divulgou-se que a célula de gordura, obesa – que fica debaixo da pele – era apenas reserva de energia. “Hoje os estudos já mostram que não é só isso. Essas células são produtoras de hormônios e marcadores inflamatórios que levam a inflamação do organismo como um todo”, revela.
Paulo Reis aponta que mitos e desinformação à respeito das cirurgias bariátricas e metabólicas podem ser o grande malefício, por isso a necessidade de desmistificar. “Com esses resultados de estudos, principalmente quando levamos em consideração a diminuição da probabilidade de câncer, de doenças metabólicas como hipertensão, diabetes e AVC, comprovam inúmeros benefícios que vão além da perda de peso, no emagrecimento em si”, conclui o cirurgião.