Escolas investem na formação emocional dos alunos

Escola é lugar de aprender a ler, escrever, contar e adquirir conhecimento em línguas, história, ciências, dentre outras áreas? Sim, mas não mais apenas isso. Embora esse tenha sido o foco da educação por muitos séculos, atualmente ela passou a contribuir também com o desenvolvimento emocional e sócio afetivo dos alunos. A consciência desse papel tem sido relevante para combater comportamentos negativos, como a intimidação sistemática, mais conhecida como bullying, assunto que está sendo discutido neste mês de abril, quando se celebra o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola (7 de abril).

De acordo com os dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2018, 29% dos estudantes brasileiros relataram terem sofrido bullying naquela época. A média da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de 23% e o ambiente pouco receptivo afeta o desempenho dos estudantes.

A psicóloga e psicopedagoga Cida Corrêa, que é diretora-geral da Escola Canadense de Goiânia – Maple Bear, explica que a escola da atualidade precisa estar preparada para a formação do aluno em sua integralidade, estimulando tanto  as habilidades cognitivas como as emocionais, e isso exige a implantação e desenvolvimento de projetos que estimulem o cultivo de valores humanos e a aplicação de uma atenção especializada, para ajudar o aluno a aprender a lidar com seus sentimentos frente às situações problemas vivenciadas nas relações de interação com o colega. “Precisamos lidar com emoções como o amor, raiva, ansiedade, vergonha, frustração, timidez e outros, de uma forma saudável e acolhedora”, diz.

Na Escola Canadense de Goiânia- Maple Bear, onde atua como diretora, felizmente ainda não vivenciou situações de prática abusiva que se configurariam em bullying. Porém, frisa Cida, nenhuma palavra, atitude ou ato que possa ser interpretado como pequena agressão na escola é negligenciado por qualquer um dos educadores.  “Temos sim crianças que, às vezes, nas suas interações, apresentam comportamentos não satisfatórios ou que não colaborem para a boa convivência, mas ainda assim isso não é tratado como bullying, porque não se trata de uma ação repetitiva em que o uso do poder vai ser atribuída para o controle do outro”, diferencia.

Quando a escola se depara com alguma situação que interfira no bom relacionamento das crianças, que gere alguma consequência, alguma insatisfação, a primeira conduta é criar um ambiente propício ao diálogo. “Reunimos as crianças num ambiente saudável, organizado, tranquilo e, sobretudo, seguro e com a mediação de um adulto, que no caso é o professor ou a coordenadora ou a psicóloga, para promover o diálogo, para que cada um se coloque, expresse seus sentimentos, reflita suas escolhas, estabeleça a relação de causa e consequência e que faça a reparação do dano causado, afirma Cida.

Ela explica que, nessas dinâmicas, o propósito é que a criança vá se percebendo na experiência de aprendizagem, e também perceba o outro, estabelecendo o vínculo e a interação socioafetiva, avançando assim no desenvolvimento da autorregulação. “Todos os comportamentos são pontuados para que a criança faça a reflexão, não trabalhamos com ações nem de cunho punitivo e nem de recompensa, entendemos que isso é apenas condicionamento de comportamento e nós queremos que a criança desenvolva a aprendizagem. Isso nos dá a segurança de dizer que essa criança está sendo preparada para a vida e ela conseguirá fazer resoluções de problemas utilizando um nível de criticidade, de responsabilidade, de comprometimento, capacidade de reparação e de liberação de perdão”, explica.

A escola também conta o apoio de profissionais da área da psicologia, para aplicar estratégias específicas dentro do contexto escolar, como palestras, dinâmicas de grupo,

 

Definições corretas 

Cida conceitua que o bullying é uma prática de ações de uma pessoa ou um grupo para exercer uma relação de poder sobre  outra,  subjugando-a ou com ofensas de ordem moral, psicológica e física. E pondera que é preciso ser cuidadoso ao classificar uma atitude como bullying.

“Nem tudo é bullying. Embora tenhamos o dever de estar atentos para qualquer foco que possa resultar em um comportamento de intimidação ao outro, é preciso considerar a fase de desenvolvimento dos envolvidos e relevar quando se trata de crianças, pois todas estão em processo de aprendizagem para a vida. Criminalizar o comportamento inadequado de uma criança é um ato desproporcional. Comportamentos infantis precisam ser modelados e mediados dentro de uma perspectiva educativa”, destaca.

Nesse sentido, ela explica que uma das ênfases da escola é ajudar as famílias, os alunos e os educadores a diferenciar a prática de bullying dos comportamentos que são naturais na fase de desenvolvimento das crianças.

Outra ação da escola é atuar com projetos que promovam e estimulem valores opostos ao bullying. Há seis anos, a escola desenvolve o projeto Construtores da Paz – Cultivando valores humanos. O projeto é uma ação interdisciplinar, institucional, envolvendo professores, alunos de todos os agrupamentos e famílias. Por meio dele,  são trabalhados valores como empatia, colaboração, respeito e perdão por meio de fóruns, palestras, dinâmicas, passeios pedagógicos, campanhas solidárias e workshops para despertar toda a comunidade escolar para a necessidade de colaboração para que a convivência seja sempre de paz. “Assim ajudamos a criança a compreender, desde cedo, que a paz que nós queremos, é a paz que nós fazemos, essa paz não vem de fora, essa paz passa por nós primeiro”, esclarece.