Desinformação ainda contribui para que 1 em cada 5 gestações termine em aborto

Embora muitos ainda tratem a gestação como uma etapa natural de qualquer casamento, ainda há muita desinformação a respeito do tema e isso pode ter consequências graves. É o que explica a médica Jordanna Leão, que depois de acumular mais de 10 anos de experiência em acompanhamento fetal decidiu disponibilizar cursos gratuitos na internet para auxiliar tentantes e gestantes na jornada da pré-concepção ao pós-parto.

“Uma em cada quatro gestantes sofrem com depressão pós-parto, de acordo com dados da Fiocruz. Se pensarmos bem, são bebezinhos que vão chegar e não conseguirão ser aleitados, amados, não terão esse suporte familiar. É um número muito alto. Estamos falando de seres que vão compor nossa sociedade no futuro. Ao mesmo tempo, várias pesquisas mostram o quanto um bom pré-natal, com suplementação adequada e rede de apoio psicológico podem modificar totalmente esses números”, ressalta.

O risco da desinformação

De fato, números mostram ainda que 1 em cada 5 gestações ainda termina em aborto espontâneo. Contudo, em estudos recentes publicados pelo periódico científico The Lancet, especialistas destacam que em muitos casos essas ocorrências ainda são tratadas como obras do acaso em que a única opção para a gestante é continuar tentando.

Como Jordanna esclarece, o atual perfil da mulher que busca sua primeira gravidez muitas vezes envolve o uso de anticoncepcionais para adiar a gestação, uma rotina intensa, dificuldade de manter uma alimentação saudável e com o agravante de não ter acesso fácil a frutas e verduras de produção orgânica. Além disso, a médica destaca que até mesmo o uso de medicação contraceptiva causa alterações no intestino que interferem na nutrição da mulher. “O que temos é uma tentante que tem uma deficiência nutricional, mais idade, toma menos sol etc. Muitas vezes, é essa mulher que pretende engravidar apenas parando o uso da pílula”, pontua.

Para a médica, esse cenário por si só diz muito sobre o nível de desinformação predominante
acerca da gestação. Ela explica que entidades como a Federação Brasileira das Associações de
Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendam a
suplementação de ácido fólico três meses antes do início das tentativas. Isso porque atualmente
os níveis médios da substância no organismo da maioria das mulheres não seria suficiente sequer
para formar a cabeça o bebê.

“É importante a gente começar essa política pública de explicar para a mulher a importância da
pré-concepção até porque esse organismo vai passar por uma maratona. A gravidez é um momento extremamente frágil em que a placenta vai infiltrar o útero, em que essa mulher vai correr riscos de várias coisas. Tanto que no ano de 2021 no Brasil, tivemos 107 mortes de mães a cada 100 mil nascimentos. E 99% das mortes maternas no mundo ocorrem em países em desenvolvimento pela falta de informação. É um índice grande. Muito disso se deve a uma pré-concepção e a um pré-natal deficientes, que, hoje pelo menos, não atinge os resultados que a gente gostaria e é isso que estamos tentando mudar”, completa.

Informação qualificada e gratuita

Diante disso, a médica – que também trabalha com a preparação de profissionais de saúde da área obstétrica – decidiu compilar a experiência acumulada em uma década de acompanhamento fetal em cursos para tentantes e gestantes. Nos materiais, Jordanna guia tanto a gestante como o casal no todo pela pré-concepção, a gestação e o pós-parto.

Para ela, ainda que a internet tenha facilitado o acesso a uma gama variada de informações, a qualidade e a conexão entre os dados disponíveis não são suficientes para ajudar a lidar com a complexidade da gravidez. “Acredito que o conhecimento diminui muito a ansiedade. Ele é luz no momento que estamos inseguros. A hiperinformação é o contrário, ela é tanta informação que não sabemos em que mar estamos nadando e não entendemos o que estamos fazendo ali, isso gera a ansiedade. Conhecimento é benção, mas hiperinformação não”, completa.