Uso de swales em empreendimento vai ajudar a preservar Lago Corumbá IV, em Abadiânia

Ocupando 22% do território nacional, o cerrado é uma formação geologicamente antiga, considerada uma savana, com relevo relativamente acidentado e altitudes medianas, caracterizado por vegetação baixa e com troncos tortuosos. Durante séculos, o solo sofreu lixiviação – lavagem da camada externa da terra pela água das chuvas – o que diminuiu, ao longo do tempo, o grau de fertilidade e até de infiltração do solo.

Com o passar dos anos e a chegada da tecnologia ao campo para a correção da terra, o solo se transformou e hoje abriga grandes plantações e pastagens para a pecuária, mas as florestas foram deixadas de lado. Pesquisa do TerraClass, fruto de parceria entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostrou que, em 2018, mais da metade do bioma havia sido entregue à agricultura, pecuária, além de outras atividades e às cidades. Apenas 49,4% do território é classificado como Vegetação Natural Primária, e 4,7% como Vegetação Natural Florestal Secundária.

A falta das florestas ou vegetação densa pode trazer sérios prejuízos para o solo. É o que alerta o biólogo e agroflorestor, Murilo Arantes. “A água da chuva cai e infiltra no solo com a ajuda das raízes das árvores, repõe o lençol freático, abastece o rio; a água desce para o mar, enquanto isso parte da água evapora, forma as nuvens e chove novamente… esse é o ciclo natural da água. Quando a gente tira a vegetação, inclusive a floresta, a água infiltra menos, temos mais escorrimento no solo e isso causa impacto, como o assoreamento dos mananciais.”

Preocupado em preservar o Lago Corumbá IV e evitar erosões e assoreamentos, o Escarpas Eco Parque, localizado às margens da represa, em Abadiânia, iniciou a instalação de swales (valas de infiltração) no empreendimento. “Diferente do sistema de drenagem convencional, que apenas direciona o fluxo da água para outro local, muitas vezes fora da área, e até gera impactos, com o swales você pega a água que está chegando no seu terreno e infiltra ali mesmo. Você facilita o ciclo natural da água, que é infiltrar e abastecer os lençóis freáticos”, explica Murilo, que é responsável pela técnica no empreendimento.

Entre os benefícios, segundo o biólogo, está o uso do solo de forma orgânica, copiando a natureza. “É uma das intenções do Escarpas: fazer um modelo de ocupação do condomínio mais sustentável, que tenha maior integração com a natureza. A recarga do lençol freático na região é muito importante pela característica de recursos hídricos abundantes e manter o nível dos mananciais”.

Alinhada ao uso do swales, o Escarpas iniciou a plantação de agrofloresta, que consiste em criar verdadeiras florestas com mudas nativas do cerrado e frutíferas, ajudando o solo a captar a água da chuva. “Na natureza, é a raiz das árvores que faz a água se infiltrar no solo. Sem as árvores, ou florestas, não há infiltração. Se a gente pegar o swale, e trazer o elemento florestal, a gente aumenta ainda mais a capacidade de absorção de água nessas áreas”, disse Murilo.

Serão plantadas 1,2 mil mudas de árvores, sendo 300 frutíferas, entre manga, goiaba, banana, pequi e até açaí. “Vamos criar corredores ecológicos e serão áreas de lazer e visitação onde vamos encontrar frutos do cerrado, frutos de mesa. A proposta que a gente tem é um cultivo todo orgânico e os moradores vão poder se beneficiar, contemplar e até auxiliar no manejo e poda, na condução desse sistema agroflorestal”, finaliza o agroflorestor.

Uso na cidade

A técnica do swales também é realidade nas áreas verdes das cidades, que a cada ano, sofrem com fortes chuvas e, consequentemente, grandes enchentes. Em Goiânia, por exemplo, a lei municipal 9.511/14 estabelece regras de controle de águas pluviais e drenagem urbana, entre elas a instalação de swales. O Parque Flamboyant, um dos principais parques da capital goiana, localizado no Jardim Goiás, é uma das áreas beneficiadas com as valas de infiltração.

Segundo relatório de 2013 da Agência Municipal do Meio Ambiente, juntamente com o Conselho de Arquitetura e Urbanização de Goiás (CAU-GO) e a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), a técnica foi usada no parque em 2012 e ajuda a evitar alagamentos. “A drenagem eficiente do solo urbano diminui as ocorrências de alagamentos e enchentes, principalmente, nos fundos de vale e nas áreas com cotas mais baixas”, defendeu o documento.