WhatsApp nas escolas: aliado ou vilão?

As ferramentas de mensagens instantâneas são uma grande revolução. Práticas, objetivas e acessíveis, elas permitem que uma informação seja rapidamente replicada para muitas pessoas com uma velocidade nunca antes vista. Mas, a mesma agilidade que gera benefícios e a torna popular, também pode ser perigosa. No WhatsApp, por exemplo, em que o controle e gerenciamento do fluxo de informações são limitados, os riscos de gerar e de compartilhar conteúdos equivocados, bem como de amplificar e desfocar os assuntos, criando contextos que gerem mal-estar, são enormes.

As escolas acabam sendo campos férteis para casos malsucedidos no uso de grupos de pais no WhatsApp. Quando não dispõem de uma ferramenta especializada para comunicação com pais e alunos, muitas instituições acabam usando esse recurso para compartilhar conteúdos sobre o cotidiano escolar. Os riscos são grandes, pois mesmo as escolas que não possuem grupos “oficiais” ou que elegem outro meio de comunicação como preferencial para o relacionamento com as famílias, como e-mail, por exemplo, acabam sendo alvo de discussões nos grupos criados extraoficialmente.

E nesses grupos não oficiais, a escola tem responsabilidade sobre as discussões que acontecem dentro dele? Quais os caminhos para lidar com os grupos de pais no WhatsApp? Os desafios começam já na dificuldade de gerenciar os temas abordados, mesmo quando regras são impostas. Por não ser um canal da instituição, a escola fica sujeita a se desgastar com todo tipo de temas, desde os mais triviais, até aqueles de grande repercussão. Enviar ou não os alunos à escola em períodos especiais ou a cor da roupa da festa junina, por exemplo, podem ser alvos de divergências tão acaloradas quanto casos de bullying.

E os desafios também estão presentes mesmo quando um colaborador da escola está no grupo na sua condição profissional. Além de comprometer sua privacidade, e dar a ele um papel de “voz oficial” do colégio, esse funcionário acaba muitas vezes tendo que responder e dialogar com pais e alunos em seu horário de lazer – o que pode acarretar problemas trabalhistas para a instituição.

E existem situações mais extremas. ‍Uma vez que as mídias digitais documentam todo o conteúdo publicado, a recomendação é ter cuidado nas conversas por meio destas ferramentas e jamais utilizar termos ofensivos e preconceituosos, já que os desentendimentos registrados podem ser enquadrados na situação de exposição e na prática de cyberbullying, conforme a Lei nº 13.185/2015.

Escolher um meio de comunicação oficial que possibilite enviar informações individualmente aos pais é uma medida que pode dialogar com o senso de urgência da sociedade atual, mas sem expor a conflitos os educadores, a escola e os menores. Neste sentido, investir em uma ferramenta voltada especialmente à comunicação com os responsáveis é um caminho que pode facilitar a comunicação e proporcionar mais segurança.

 

‍Tatiana Santana é diretora do Colégio Externato São José e coordenadora regional da ANEC (Associação Nacional de Educação Católica do Brasil)